Estudo comparativo do torque de remoção de parafusos

Estudo comparativo do torque de remoção de parafusos convencionais e parafusos experimentais cone-morse para próteses implantossuportadas

Comparative study of the loosening torque of abutment conventional screws and experimental morse taper screws: pilot sudy

Abílio Ricciardi Coppedê*
Adriana Cláudia Lapria Faria**
Renata Cristina Silveira Rodrigues***
Maria da Gloria Chiarello de Mattos****
Ricardo Faria Ribeiro*****

RESUMO

A proposta deste estudo foi avaliar o torque de remoção de parafusos de pilar em dois sistemas de implantes: conexão em hexágono externo e conexão em triângulo interno, utilizando parafusos convencionais e parafusos experimentais cone-morse. Os implantes e pilares foram divididos em quatro grupos – Grupo 1: hexágono externo/parafuso convencional (HE); Grupo 2: triângulo interno/parafuso convencional (TI); Grupo 3: hexágono externo/parafuso cone-morse (HECM); Grupo 4: triângulo interno/parafuso cone-morse (TICM). Os pilares foram instalados em seus respectivos implantes com torque de 32 Ncm; após dez minutos, os pilares foram removidos e os torques de remoção dos parafusos medidos, utilizando torquímetro digital. Os dados foram submetidos à Anova one-way (α = 0,05).

Houve diferença signifi cante (p = 0,000) nos resultados dos dois tipos de parafusos, com melhores resultados para os parafusos cone-morse. Não houve
diferença signifi cante entre os dois sistemas de implantes. Considerando as limitações deste estudo in vitro, é possível concluir que os parafusos cone-morse podem ser uma alternativa para evitar os afrouxamentos de parafusos em próteses implantossuportadas, independentemente do sistema de implante utilizado. Unitermos – Próteses e implantes; Implantes dentários; Conexão implante/pilar protético; Torque de inserção; Torque de remoção; Parafuso cone-morse.

ABSTRACT
The purpose of this study was to evaluate the loosening torque of the abutment screw in two implant systems: an external hex connection, and an internal triangle, using conventional screws and experimental Morse-taper screws. The implants were divided into 4 groups: Group 1: external hex/conventional screw (HE); Group 2: internal triangle/conventional screw; Group 3: external hex/Morse taper screw; Group 4: internal triangle/Morse taper screw. The abutments were installed in their respective implants with a 32 Ncm torque; after 10 minutes, the abutments were removed, and the loosening torques measured with a digital torquemeter.

Data were analyzed with one-way Anova test (α = 0.05). There was signifi cant difference (p = 0.000) in the results of the two screw types, with better results for the Morse-taper one. There was no signifi cant difference between the two implant systems. Considering the limitations of this in vitro study, it is possible to conclude that Morse taper screws may be an alternative to avoid screw loosening in implant-supported prostheses, regardless of the implant choice systems. Key Words – Prostheses and implants; Dental implants; Implant/abutment connection; Tightening torque; Loosening torque; Morse taper screws.

*Mestre e doutorando em Reabilitação Oral – Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo; Professor do Curso de Especialização em Implantodontia – Uningá/Campinas.
**Mestre e doutora em Reabilitação Oral – Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo; Especialista em Laboratório de Nível Superior – Procontes – USP.
***Mestre e doutora em Reabilitação Oral e professora – Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo.
****Mestre e doutora em Reabilitação Oral e professora titular – Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo.
*****Mestre e doutor em Reabilitação Oral – Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo; Professor titular – Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo.

Introdução

Os implantes osseointegráveis constituem uma solução para edentulismos unitários, parciais ou totais, com altos índices de sucesso e previsibilidade. Na maior parte dos sistemas, o implante e o pilar protético são parafusados um ao outro. A interface de contato destes componentes é geralmente em hexágono externo ou interno. A altura reduzida do hexágono externo não garante estabilidade mecânica ao pilar e as forças oclusais são concentradas no parafuso de fi xação. Essa condição leva ao maior risco de afrouxamento ou fratura do parafuso1. O problema mecânico relatado com maior frequência na literatura é o afrouxamento dos parafusos de união entre o implante e o pilar protético1. Mesmo assim, a conexão em hexágono externo continua a ser a mais popular nos dias atuais.

Conexões internas foram desenvolvidas para aumentar a superfície de contato entre o implante e o pilar, aumentando a estabilidade do pilar. Está demonstrado que os implantes com conexão interna proporcionam melhor distribuição de forças, comparados aos implantes de hexágono externo2. Para o aprimoramento de juntas diversas, foi proposto um mecanismo onde um cone macho é sobreposto a um cone fêmea, resultando em alta estabilidade friccional.

Este tipo de junta é conhecido como conemorse e é amplamente utilizado pela engenharia e pela indústria3. Na Odontologia existem algumas propostas de utilização de interfaces cone-morse entre implante e pilar protético com o objetivo de aprimorar algumas propriedades destes implantes4. Para o presente estudo, que constitui parte do trabalho da Tese de Doutorado do autor, foram desenvolvidos parafusos experimentais com geometria coneorse visando proporcionar maior embricamento mecânico entre parafuso e pilar protético, aumentando seu torque de remoção em comparação aos parafusos comuns. Não existe, até o momento, nenhum trabalho descrito na literatura especializada que tenha proposto a utilização de um parafuso com esta geometria para a retenção de pilares protéticos em restaurações implantossuportadas. Esta nota prévia teve como objetivo divulgar os resultados preliminares obtidos com estes parafusos experimentais.

Proposição

A hipótese testada neste trabalho é a de que parafusos experimentais de pilar com geometria cone-morse têm maior torque de remoção que parafusos convencionais. Para a realização deste ensaio, foram utilizados 22 implantes experimentais com conexão hexágono externo, plataforma 4,1 mm, e 22 implantes experimentais com conexão triângulo interno plataforma, 4,3 mm, todos com 13 mm de comprimento. Os pilares protéticos utilizados foram munhões de titânio para próteses unitárias cimentadas.

Foram utilizados 11 munhões para hexágono externo com parafuso convencional, 11 munhões para triângulo interno com parafuso convencional, 11 munhões para hexágono externo com parafuso cone-morse e 11 munhões para triângulo interno com parafuso cone-morse. Todos os implantes e pilares experimentais foram confeccionados por um único fabricante (Dérig Indústria e Comércio de Ferramentas Ltda., São Paulo, Brasil).

Os implantes e os pilares foram divididos em quatro grupos, da seguinte forma: Grupo A – conexão hexágono externo e parafuso convencional (HE); Grupo B – conexão hexágono externo e parafuso experimental cone-morse (HECM); Grupo C – conexão triângulo interno e parafuso convencional (HECM); Grupo D – conexão triângulo interno e parafuso experimental cone-morse (TICM). Todos os pilares protéticos foram instalados em seus respectivos implantes com torque de 32 Ncm.

Os torques de instalação foram medidos através de um torquímetro digital TQ 680 (Instrutherm Instrumentos de Medição Ltda., São Paulo, Brasil). Após um intervalo de dez minutos, foram medidos os torques de remoção dos pilares, utilizando o mesmo torquímetro. Os dados coletados foram analisados usando o programa estatístico SPSS 17.0 for Windows (SPSS Inc., Chicago, Illinois, EUA). As condições de homogeneidade das variâncias e distribuição normal foram testadas para as variáveis avaliadas. Os resultados observados foram analisados com o teste one-way Anova para p  0,05.

Conexões internas foram desenvolvidas para aumentar a superfície de contato entre o implante e o pilar, aumentando a estabilidade do pilar. Está demonstrado que os implantes com conexão interna proporcionam melhor distribuição de forças, comparados aos implantes de hexágono externo2.

Resultados

Os resultados preliminares dos ensaios mostraram diferença significante entre os resultados dos dois tipos de parafusos, com melhores resultados obtidos pelos parafusos cone-morse. O torque de remoção dos parafusos cone-morse foi em média 92% do torque de instalação, enquanto que para os parafusos convencionais, o torque de remoção foi aproximadamente 76% do torque de instalação.Não houve diferença signifi cante nos resultados para os dois sistemas de implantes.

Discussão

Diversos fatores podem contribuir para o afrouxamento de parafusos em próteses implantossuportadas, entre eles: apertamento inadequado do parafuso; forma e natureza do parafuso; estruturas protéticas não passivas ou com cantiléveres; mesas oclusais amplas; cúspides inclinadas; cargas laterais e bruxismo5. O parafuso com geometria cone-morse desenvolvido para este estudo pode ser utilizado na maioria dos sistemas de implantes; basta haverem munhões específi cos para sua utilização.

Os resultados deste estudo mostram que o parafuso cone-morse proporcionou maior embricamento mecânico com o pilar protético, aumentando seu torque de remoção em comparação ao parafuso comum. Clinicamente, este achado pode traduzir se na redução do número de afrouxamentos indesejáveis de parafusos de próteses implantossuportadas.

Conclusão

Dentro das limitações deste estudo invitro é possível concluir que os parafusos cone-morse podem ser uma alternativa para evitar os afrouxamentos de parafusos em próteses implantos suportadas, independentemente do sistema de implante utilizado.

Agradecimento: os autores agradecem à Dérig Indústria e Comércio de Ferramentas Ltda., na pessoa de seu proprietário, o Sr. Dario Avelino da Silva, por ter desenvolvido todos os projetos de engenharia e produzido todos os implantes, munhões, chaves e parafusos utilizados neste trabalho. Agradecem também à engenheira Ana Paula Macedo, ao engenheiro Luiz Sérgio Soares e à Ofi cina de Precisão do Campus Administrativo de Ribeirão Preto,
pelo desenvolvimento dos equipamentos utilizados nos ensaios, assim como pelo auxílio na análise estatística do trabalho.

Nota de esclarecimento: Nós, os autores deste trabalho, não recebemos apoio fi nanceiro para pesquisa dado por organizações que possam ter ganho ou perda com a publicação deste trabalho. Nós, ou os membros de nossas famílias, não recebemos honorários de consultoria ou fomos pagos como avaliadores por organizações que possam ter ganho ou perda com a publicação deste trabalho, não possuímos ações ou investimentos em organizações que também possam ter ganho ou perda com a publicação deste trabalho.

Não recebemos honorários de apresentações vindos de organizações que com fins lucrativos possam ter ganho ou perda com a publicação deste trabalho, não estamos empregados pela entidade comercial que patrocinou o estudo e tambémnão possuímos patentes ou royalties, nem trabalhamos como testemunha especializada, ou realizamos atividades para uma entidade com interesse fi nanceiro nesta área.

Endereço para correspondência:
Ricardo Faria Ribeiro (Departamento de Materiais Dentários e Prótese)
Av. do Café, s/n – Monte Alegre
14040-904 – Ribeirão Preto – SP
Tel.: (16) 3602-4046 – Fax: (16) 3602-4780
rribeiro@forp.usp.br

Referências bibliográficas

  1. Norton MR. An in vitro evaluation of the strength of an internal conical interface compared to a butt joint interface in implant design. Clin Oral Implants Res 1997;8:290-8.
  2. Maeda Y, Satoh T, Sogo M. In vitro differences of stress concentrations for internal and external hex implant-abutment connections: a short communication. J Oral Rehabil 2006;33:75-8.
  3. Bozkaya D; Müftü S. Mechanics of the tapered interference fi t dental implants. J Biomech 2003;36:1649-58.
  4. Coppedê AR, Mattos MGC, Rodrigues RCS, Ribeiro RF. Effect of repeated torque/mechanical loading cycles on two different abutment types in implants with internaltapered connections: an in vitro study. Clin Oral Impl Res 2009;20:624-32.
  5. Elias CN, Figueira DC. Torque para soltar parafusos de prótese sobre implante. Rev Bras Odontol 2003;60:343-5